“Quando
eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a
História do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só lia os nomes
masculinos como defensor da pátria”.
Carolina Maria de Jesus
Assim como Carolina Maria de
Jesus, muitas meninas/mulheres vivenciaram/vivenciam tempos onde suas histórias
foram negligenciadas, deturpadas. Em termos acadêmicos, a tendência em colocar
o masculino como sendo o único paradigma de representação coletiva –
androcentrismo- tardou os registros
femininos na historiografia. As próprias diferenças biológicas, têm colocado a
mulher numa posição de inferioridade, contudo, como já defendido por Simone de
Beauvoir, nada como a importância social dada a essas diferenças para tornar
mais determinante a opressão das mulheres.
Nos primeiros decênios do
século XX, a mulher continuava a vida privada da família, sobretudo na
sociedade brasileira, quando se trata da classe mais abastada, emergia a
primeira advogada, a atriz, a cantora, que ganhariam notoriedade. Já entre as
mulheres mais pobres, o trabalho não lhe faltava. O que lhe era imprescindível,
era o direito de acesso à saúde, educação, entre outros tantos.
Ainda que houvessem
divergências, quanto ao acesso a direitos fundamentais das mulheres, sobretudo
quando consideram as classes, o século XX, é conhecido como o século das
mulheres, uma vez que os debates em torno da equidade entre mulheres em homens
foram ampliados. Por conseguinte, foi notória a ampliação dos direitos e a
melhoria da qualidade de vida das mulheres. Atualmente, a representação do
feminino, está presente no mundo do trabalho, nas leis, na política, na
organização social e familiar, indicando a conquista de sua independência.
Entendendo que “Ninguém nasce
mulher, torna –se mulher”, nenhuma barreira tem sido crucial na busca da
liberdade, do tornar-se mulher, diluindo cada vez mais as fronteiras que nos
impedem de ser exercer de maneira autônoma, nosso trabalho, nossos anseios,
nossos direitos que caminham em direção à equidade social, política e econômica
através do despertar da consciência coletiva, expressa por ações de fortalecimento
das mulheres. Empoderemos- nos como ato de tomar poder sobre nós mesmas.
Voltemos a Carolina Maria de Jesus, continuemos sim nesta luta, escrevendo
nossas histórias, para que muitas Carolinas, possam ler seus nomes, na história
do Brasil e do Mundo.
Para ilustrar isso e continuar
a nossa reflexão sobre nós, mulheres, trazemos a letra da música de Milton
Nascimento clássico da MPB “Maria, Maria”.
Quantas “Marias” conhecemos e
quantas Marias precisamos ser ao longo da vida? A música “Maria, Maria”, dedicada
à mãe do cantor Milton Nascimento, retrata a luta diária de muitas mulheres
que, vivendo em uma sociedade alicerçada pela herança do patriarcado e do
sexismo, travam, constantemente, lutas para se afirmarem enquanto pessoa,
agentes sociais, batalhadoras, mães, e mulheres que, embora encontrem
inumeráveis barreiras, acreditam que podem vencer. Apesar das “dores”,
conseguem entregar belos sorrisos, inspiram, têm fé na vida, sim, nós que somos
diversas Marias, merecemos amar e sermos amadas.
Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e
amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí quando
deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida
(Maria,
Maria; Milton Nascimento/1978)
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